Juca Ferreira: Iphan errou ao liberar obra na BA
Bob Fernandes e Claudio Leal
A retirada do calçamento português da Orla de Salvador provocou uma série de petardos de intelectuais contra a Prefeitura da capital baiana. Autorizadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), as obras substituíram a velha calçada do Porto da Barra, praia mais famosa da Bahia, por granito e concreto. Seis árvores foram cortadas.
Crítico do projeto, o compositor Caetano Veloso qualificou a intervenção urbana do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) como "crime cultural". "Essa é uma tolice que traz conseqüências sérias e más", sintetizou, em entrevista a Terra Magazine.
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O coro de descontentes ganha também o apoio do novo ministro da Cultura, o baiano Juca Ferreira. Eleito duas vezes para a Câmara de Salvador, Ferreira critica a autorização dada pelo Iphan.
- As instituições de preservação federal - no caso, o Iphan - e a estadual, o Ipac, erraram ao permitir essa mudança (...) Esse afã em substituir as marcas coloniais por padrões de urbanização despersonalizados não contribuem para o embelezamento da cidade nem para a melhoria da qualidade do ambiente urbano - analisa o ministro.
O Ministério Público foi acionado para se manifestar sobre o caso. A Prefeitura alega que ouviu todas as instâncias oficiais antes de iniciar as obras. Numa enquete do MP, a surpresa: 62,99% dos votantes foram favoráveis à retirada das pedras portuguesas. Quando mal conservadas, elas são associadas a transtornos para a locomoção.
Um movimento formado por moradores da Barra, arquitetos, professores e artistas pretende organizar um seminário para debater, em 2009, as agressões urbanas e a degradação ambiental de Salvador. Em setembro de 2008, deve haver um pré-seminário que antecipe a discussão.
O dano à paisagem do Porto da Barra será um dos pontos. A aprovação apressada do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), apresentado pelo prefeito a uma platéia de empreiteiros e imobiliárias, será alvo de questionamentos. Um dos organizadores do seminário, o antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, Ordep Serra, apresenta os eixos do debate público:
- A sociedade civil organizada não vai aceitar que isso continue. Vamos tomar providências sérias contra essa onda feroz de ataques à cidade. Estamos convivendo com a desarborização, a aprovação de megaprojetos imobiliários sob a pressão de grandes grupos econômicos, com falta de transparência, atropelando as leis para satisfazer a interesses financeiros - condena Serra.
Em conversa com Terra Magazine, o ministro da Cultura afirma que não se pode "dissimular nem tergiversar sobre o assunto". Juca Ferreira dá razão aos protestos: "Acho que houve um erro claro."
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Terra Magazine - Em Salvador, há problemas relacionados ao planejamento urbano da cidade - entre os quais, o do calcaçamento português da Orla, do Porto da Barra. Como o Ministério da Cultura encara questões como a de Salvador, os choques dos interesses privados e públicos com o patrimônio?
Juca Ferreira - Vou dar minha opinião pessoal. Na verdade, o Iphan teve a posição inicial de não impedir a substituição da pedra portuguesa por cimento e granito. Acho que foi ruim. As instituições de preservação federal - no caso, o Iphan - e a estadual, o Ipac, erraram ao permitir essa mudança. A pedra portuguesa é uma característica das cidades coloniais portuguesas. É uma marca, faz parte da paisagem daquela área da cidade de Salvador.
Juca Ferreira - Vou dar minha opinião pessoal. Na verdade, o Iphan teve a posição inicial de não impedir a substituição da pedra portuguesa por cimento e granito. Acho que foi ruim. As instituições de preservação federal - no caso, o Iphan - e a estadual, o Ipac, erraram ao permitir essa mudança. A pedra portuguesa é uma característica das cidades coloniais portuguesas. É uma marca, faz parte da paisagem daquela área da cidade de Salvador.
Esse afã em substituir as marcas coloniais por padrões de urbanização despersonalizados não contribuem para o embelezamento da cidade nem para a melhoria da qualidade do ambiente urbano. Eu, particularmente, se tivesse tido conhecimento na época, ou se fosse o representante regional do Iphan na Bahia, eu teria me manifestado contra. O problema é que tanto o Iphan quanto o Ipac permitiram e agora querem... Como a populaçao reagiu, os artistas da cidade reagiram - Caetano (Veloso) e outros -, eles não estão sabendo o que fazer e estão tentando criar entraves burocráticos para a realização da obra. Eu acho que é equivocado isso. É a favor ou contra? Eu, particularmente, acho que erraram ao permitir a obra.
Conflitos semelhantes têm ocorrido em outras cidades brasileiras...
Tem, sim...
Tem, sim...
Os institutos de proteção ao patrimônio histórico não precisam ser fortalecidos? Eles não sofrem pressões muito fortes de setores privados?
A pressão não justifica. Pressão existe em todo campo da vida social. Não justifica atitudes de incoerência ou de falta de referência. Acho que erraram, o Iphan local errou, o Ipac errou. Acho que é de se esperar o conflito entre preservação e desenvolvimento urbano, principalmente em um país onde o desenvolvimento urbano é caótico, desordenado, predatório, tanto ambientalmente quanto culturalmente. É para isso que existem as instituições. Não é uma questão de fortalecimento ou não fortalecimento. É uma questão de coerência do gestor responsável por dar a opção, por responder sim ou não, é positiva a retirada das pedras portuguesas ou é um equívoco. E acho que houve um erro. Não se pode dissimular nem tergiversar sobre o assunto. Acho que houve um erro claro. E a cidade está correta em reagir.
A pressão não justifica. Pressão existe em todo campo da vida social. Não justifica atitudes de incoerência ou de falta de referência. Acho que erraram, o Iphan local errou, o Ipac errou. Acho que é de se esperar o conflito entre preservação e desenvolvimento urbano, principalmente em um país onde o desenvolvimento urbano é caótico, desordenado, predatório, tanto ambientalmente quanto culturalmente. É para isso que existem as instituições. Não é uma questão de fortalecimento ou não fortalecimento. É uma questão de coerência do gestor responsável por dar a opção, por responder sim ou não, é positiva a retirada das pedras portuguesas ou é um equívoco. E acho que houve um erro. Não se pode dissimular nem tergiversar sobre o assunto. Acho que houve um erro claro. E a cidade está correta em reagir.
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